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Tópico: Turbilhão
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30/05/09 - 21:20
  Quote  #2
Mensagem por Sousa
Local: Lisboa
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Caro Coelho

Qando foi inventado, quase nos primórdios do relógio de pulso, o turbilhão era suposto acrescentar precisão ao funcionamento do relógio.

Hoje em dia, em que a precisão se obtem por pouco dinheiro, através de um qualquer relógio de quartzo, o turbilhão passou a ter uma outra função.

O turbilhão passou a representar uma complicação do mecanismo que acrescenta valor ao relógio.

 
05/06/09 - 10:05
  Quote  #3
Mensagem por Torres
Local: Lisboa
Cadastro: 05/09/06
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Caro Coelho,

Um artigo que escrevi recentemente. Não é de leitura fácil, mas talvez ajude:

O Turbilhão

Para a grande maioria das pessoas familiarizadas com o mundo da relojoaria, o termo “turbilhão” é sinónimo do mais alto grau de excelência e complicação passível de ser aplicado a um movimento relojoeiro mecânico.
A oportunidade de revisitar esta complicação, foi dada pela visita à recente exposição temática dedicada ao “Turbilhão”, e organizada pela Boutique dos Relógios Plus que contou com a presença de uma selecção de modelos da Blancpain, Breguet, Hublot e IWC. A invulgar concentração de exemplares, “deste calibre”, numa exposição inédita em Portugal, e a adesão nos últimos vinte anos da grande maioria das marcas de alta relojoaria a esta complicação foram motivo suficiente para resgatar de novo ao pó a referencial obra de Reinhard Meis, “Das Turbillon”. Foi ela que guiou este sintético mergulho através dos complicados meandros do surgimento desta que é considerada a complicação das complicações, dentro do mundo da relojoaria.

Para surpresa de alguns, a justificação para o desenvolvimento do turbilhão associado à compensação do efeito da gravidade sobre o balanço é apenas uma parte da história que levou Abraham Louis Breguet a desenvolver este sistema complexo em 1795. Ele próprio viria a afirmar a respeito da sua invenção:

“ Por meio desta invenção, obtive sucesso em cancelar através de compensação as anomalias causadas pelas diferentes posições dos centros de gravidade dos movimentos do regulador, de distribuir atritos por todas as partes dos pivots da circunferência deste regulador e dos apoios nos quais estes se movimentam. Isto deverá permitir que a lubrificação das superfícies sujeitas a atrito seja sempre uniforme, apesar da coagulação do óleo, e finalmente de maneira a cancelar muitas outras causas de erro que influenciam a precisão do movimento. Isto só pode ser alcançado através de um constante processo de tentativa e erro, e com frequência, sem qualquer garantia de sucesso.”

Reinhard Meis revela-nos que foi a procura de soluções para o problema da compensação das variações térmicas do espiral que deu origem em primeira instância ao desenvolvimento do conceito do turbilhão. Com efeito, este componente sofria no século XVIII alterações consideráveis quando sujeito a diferentes temperaturas. Não era, neste caso, o comprimento que dava origem aos problemas, mas sim a consistência do metal quando sujeito a maiores temperaturas (menos rígido) ou menores temperaturas (mais rígido). A elasticidade do espiral dependia assim muito mais da flexibilidade do metal de que era construído do que do seu comprimento.

Pierre Le Roy (1717 – 1785) verificou desde cedo que a acção das variações momentâneas da temperatura sobre o espiral podiam ser compensadas através de uma variação proporcional do seu comprimento. Mas com esta alteração, surgiam outras e novas perturbações ao nível do isocronismo. Efectivamente, devido à inexistência de uma produção em série na época, para cada balanço, apenas era passível adoptar um determinado comprimento de espiral específico e único. Era então necessário encontrar um meio que permitisse manter uniforme o seu comprimento assim como a sua elasticidade. A solução passava por influenciar o movimento do balanço através da deslocação concêntrica da sua massa. A execução desta técnica tinha de ser perfeita, sob o risco de se incorrer em erros de isocronismo de maior grau.

No entanto também esta solução não era totalmente isenta de erros num período maior de utilização, conhecida vulgarmente por erros de posição. Para os resolver era necessário conhecer a sua origem, eliminá-los ou compensá-los. O erro de posição era originado pela localização descentrada do fulcro da massa do balanço. Um aspecto fácil de perceber se se imaginar o efeito de uma simples roda de automóvel não calibrada! Para este novo problema, a solução passava agora pela alteração da massa inércial do balanço. Várias soluções foram ensaiadas com o objectivo de a fazer aproximar ao máximo do centro do balanço, de maneira a influenciar e fazer diminuir o seu efeito inércial. A execução do balanço em ligas bimetálicas foi uma solução encontrada, na qual a sua aplicação se fazia acompanhar por um corte junto aos braços do balanço, interrompendo a sua forma circular. Através da dilatação distinta das duas ligas empregues em conjunto (com coeficiente de dilatação distintos, normalmente os do aço e do latão), obtinha-se uma curvatura dinâmica, positiva ou negativa, consoante a temperatura. As massas do balanço moviam-se assim, ou para o interior ou para o exterior do centro do balanço, alterando consequentemente o efeito inércial decorrente do seu movimento oscilatório, com tendência para o manter constante ao longo de diferentes níveis de temperatura.
Mas a experiência demonstrou que mesmo uma execução quase perfeita desta técnica não anulava na totalidade as diferenças de isocronismo do movimento, principalmente na posição vertical, onde a acção gravítica sobre o balanço se fazia sentir com maior incidência.

Foi nesta altura que Abraham Louis Breguet chegou à ideia genial de fazer movimentar a totalidade do sistema oscilador, incluindo o sistema de escape, sob um eixo comum, com o objectivo de anular os erros de posição do balanço. O princípio baseava-se na ideia de que um movimento que avançasse, por exemplo 30 segundos e que de seguida atrasasse na mesma medida, não teria na prática qualquer variação. Os erros de atraso seriam assim compensados por erros de avanço equiparados. Um comportamento constante desta ordem cria desta forma uma cadência média de acordo com um sistema perfeitamente regulado. Breguet monta assim o balanço e o escape sobre uma pequena base (actualmente uma estrutura associada a uma gaiola), permitindo que esta se movimente sobre si própria. Numa posição horizontal do relógio, a acção da gravidade acabava por ter uma fraca influência sobre o balanço, mas numa posição vertical, já este efeito se fazia sentir com maior incidência. E é aqui que através de uma rotação de, por exemplo sessenta segundos, o erro positivo ocorrido ao longo dos primeiros trinta pode ser compensado de forma inversa ao longo dos 30 segundos seguintes, anulando-se no final de uma rotação completa. Breguet apelidou este mecanismo de “Tourbillon”, turbilhão, numa analogia directa ao seu movimento circular, obtendo já em 1801 uma patente para esta complicação.

Durante décadas este sistema, identificado justamente como uma complicação de pleno direito, foi constantemente melhorada, e durante muito tempo representou uma mais valia efectiva na precisão do relógio, com vários modelos a ganharem as mais exigentes provas de observatório. Mas a evolução tecnológica permitiu mais recentemente, que mesmo os órgãos reguladores mais convencionais possam agora alcançar os resultados que antes estavam apenas reservados apenas ao turbilhão. No entanto esta complicação mentem-se ainda hoje como o santo Graal do relojoeiro e do coleccionador, muito devido à extrema dificuldade inerente à sua construção e regulação, e especialmente devido ao efeito hipnótico e de grande fascínio que provoca em quem observa o seu movimento continuo.

Um aspecto relevante destacado por Reinhard Meis, é o de que ao longo de cerca de 180 anos (até ao iniciou da década de noventa), num espaço de tempo em que foram produzidos milhões de relógios, apenas 650 foram turbilhões. Uma prova cabal da grande raridade desta complicação, justificada pela extrema dificuldade na sua construção e regulação, que mesmo na actualidade, com outros meios e técnicas ao dispor, não perdeu nada do seu apelo e fascínio.
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