PaneraiEntrevista exclusiva com o CEO Angelo Bonati
06 de julho de 2009
Angelo Bonati nasceu em Milão, Itália, em 1951. Em 1997, comandou o relançamento de uma marca histórica recém-incorporada ao Grupo Vendôme, a Officine Panerai, que viria a representar um fenômeno de vendas dentro do universo de marcas deste grupo.
A contribuição dada por Angelo Bonati ao crescimento mundial e ao desenvolvimento da Officine Panerai foi fundamental e, desde 2000, ele ocupa a posição de CEO da empresa.
Ele é um expert na indústria de relógios, um ávido e apaixonado "homem do mar", além de ser um aficionado por Arte e Cultura.
Em uma recente visita ao Brasil, Angelo Bonati recebeu Carlos E. Tiburcio Ramos, colaborador de Relógios & Relógios, para uma entrevista exclusiva no Hotel Fasano, no Rio de Janeiro.
Relógios & Relógios: Bom dia! Consideramos que uma importante parte da história relojoeira contemporânea pode ser dividida entre "Antes da Panerai" e "Depois da Panerai". A marca sem dúvida marcou sua presença no mercado de acessórios masculinos de alta gama de maneira única, não somente com seu design particular e dimensões importantes, mas também desenvolvendo uma legião de clientes e admiradores dedicados. Como o Sr. se relaciona e interage com os "devotos" da Panerai, os "Paneristi" (estes fãs dedicados da Panerai)?
Angelo Bonati: Foi um fenômeno social espontâneo e eu tento não interferir com a comunidade "Paneristi" que é um mundo especial que eu respeito, e quando necessário posso ajudar para clarificações.
R&R: Como o Sr. avalia a repercussão do PCYC (Panerai Classic Yachts Challenge)?
A.B.: Excelente, pois hoje em dia quando você fala sobre "Classic Yachts" você fala sobre a Panerai. A PCYC nos dá uma excelente visibilidade e nós patrocinamos a regata, pois ela expressa muito bem nossa imagem, nossos valores e herança histórica ligada ao mar, e também nossa qualidade e confiabilidade, em um contexto de paz e de grandes realizações humanas.
A.B.: Esta exposição é uma outra maneira de promover a Panerai, também com profundas conexões com o mundo das navegações, pois Galileu é muito próximo à marca não somente por sua família ser originária da cidade de Firenze (ou Florença, Itália), mas principalmente por suas importantes contribuições à Ciência e à Navegação, tais como seus trabalhos inovadores com os pêndulos para a medida precisa do tempo, criando as bases para a moderna indústria relojoeira.
A.B.: Em continuação, outro tema muito atual, também relacionado ao Mar, e de grande importância para a Panerai é o Meio-Ambiente, e desta forma estamos patrocinando o navegador sul africano Mike Horn e seu veleiro Pangaea* em sua atual viagem de 4 Anos ao redor do Mundo para colaborar com a preservação dos Mares e Eco-sistemas, e ensinar às novas gerações a beleza de nosso Planeta e como podemos contribuir para a sua preservação (http://www.mikehorn.com/index.php/site/page/home).
R&R: O que o mercado brasileiro representa hoje para a Panerai, e quais as suas expectativas com relação a ele?
A.B.: O Mercado Brasileiro é grande, com muitos clientes, é muito importante para a Panerai e sabemos que é um País com um grande potencial de futuro, também. Recentemente abrimos uma Boutique na Argentina com um parceiro da marca e planejamos também abrir uma Boutique Panerai no Brasil, talvez aqui mesmo no Rio de Janeiro.
R&R: E com relação ao mercado Português?
A.B.: Trata-se de um belo País, com um mercado em desenvolvimento para produtos sofisticados como os nossos, que esperamos que em breve esteja em um nível mais importante.
R&R: Atualmente os modelos Panerai são bastante semelhantes entre si. A marca tem planos de lançar algo que fuja ao seu design tradicional?
A.B.: Nós planejamos continuar seguindo em nossos próprios trilhos com nossos produtos. É muito arriscado diversificar e tentar seguir outras oportunidades de mercado, pois a Panerai tem valores e uma identidade muito forte que queremos preservar. Se fizermos diferenças que fujam deste nosso DNA da marca nossos clientes poderão até gostar dos relógios, mas não irão reconhecer o relógio como um autêntico Panerai. Em nossa linha Ferrari, por exemplo, nós nunca declaramos que são relógios com o nome Panerai, mas relógios "Engineered by OFFICINE Panerai".
R&R: A Panerai planeja substituir totalmente os movimentos de base ETA por calibres de manufatura própria?
A.B.: A Panerai somente trabalha com versões exclusivas da ETA para seus relógios, mas como queremos continuar o desenvolvimento de nossos produtos com vistas a um nível ainda mais exclusivo e independente, estamos investindo para tornar a marca uma manufatura completa. Com os movimentos ETA a Panerai fica limitada a um determinado segmento e nível de preço, e nós queremos mover a marca para atingir a uma faixa nova de clientes, em busca de movimentos exclusivos e ainda mais avançados e sofisticados. Nós não desenvolvemos a marca com base em mudanças superficiais nos mostradores ou mudando o formato das caixas, mas com mudanças importantes e de conteúdo, como nestes novos movimentos in-house (Nota: A Officine Panerai apresentou no SIHH 2009 novos movimentos projetados e fabricados inteiramente in-house, a linha P.9000, composta pelos calibres P.9000, P.9001 e P.9002, que se juntam aos cinco já existentes, P.2002, P.2003, P.2004, P.2005 e P.2006).
R&R: Muitos aficionados se queixaram da baixa resistência à água do modelo Egiziano (30 metros), antes anunciada como de 100 metros. O que o Sr. diria a respeito?
A.B.: Como este relógio foi uma re-edição fiel do modelo original histórico empregando Plexiglass ao invés de cristal de safira, resolvemos ser mais conservadores e garantir oficialmente a resistência à água ao nível de 30 metros, mas entre eu e você, estou seguro de que ele pode resistir a 100 metros de profundidade sem problemas! De qualquer forma, este é um modelo para colecionadores, e eu não acredito que estes colecionadores pretenderão mergulhar a estas profundidades com o Egiziano!
R&R: Qual foi o principal objetivo do lançamento de um modelo Panerai com movimento Tourbillon (movimento a corda manual calibre P.2005)?
A.B.: Com este movimento a Panerai adicionou à sua linha de produtos não um Turbilhão "qualquer", mas um sofisticado Turbilhão exclusivo Panerai, abrindo novas portas, e assim demonstrando ao mercado e a seus clientes suas competências técnicas, e sua capacidade de oferecer um produto diferenciado a uma nova gama de colecionadores. Decidimos que como o Tourbillon não é uma funcionalidade do relógio (como um cronógrafo, por exemplo), mas um mecanismo para melhorar a precisão da medida do tempo, inventado originalmente por Breguet, não haveria razão para exibí-lo no mostrador (sendo visível somente através do fundo transparente de safira). Esta decisão causou muita perplexidade não somente no mercado, mas inclusive até dentro do Grupo Richemont!
R&R: Como o Sr. avalia a concorrência entre a Panerai e outras marcas em geral, que produzem relógios para mergulho dentro do Grupo Richemont, como a IWC, por exemplo?
A.B.: Como disse anteriormente, a Panerai sempre segue em seus trilhos originais. Nós continuamos em nosso estreito caminho, enquanto outras marcas (dentro e fora do grupo Richemont) têm um universo muito mais amplo, pois elas estudam os clientes que querem atingir, e desenvolvem seus produtos a partir daí. Assim você poderá encontrar nas outras marcas relógios femininos, relógios complicados, relógios pequenos, relógios grandes, enfim uma grande variedade. Nós às vezes fazemos algumas pequenas variações como o modelo Tourbillon, mas fazemos isto em pequenas quantidades, e mantemos nosso "core business" com modelos como este (mostrando o modelo Luminor Base a corda manual em seu pulso). Para manter este DNA da marca intocado sabemos que poderemos até perder algumas vendas. Por exemplo, já recebemos pedidos de nossos parceiros para coleções de relógios com brilhantes, que sabemos que venderiam bem, mas não os produzimos, pois isto não seria fiel ao caminho que trilhamos.
R&R: Sim, entendemos, mantendo o caminho e a tradição, mas eventualmente apresentando algumas surpresas ao mercado! E acerca da competição com outras marcas que produzem relógios para mergulho dentro do Grupo Richemont, como a IWC, por exemplo?
A.B.: Em geral consideramos a competição bem-vinda porque é um estímulo para nós, trabalhamos como um time, e se encontramos bons jogadores do outro lado, isto nos ajuda.
R&R: Para finalizar, o Sr. poderia comentar sobre os planos futuros da marca?
A.B.: Estou convencido que o gerenciamento do grupo Richemont quer fazer da Panerai um "player" cada vez mais forte no segmento de relógios de prestígio, a fim de que ela continue firme em seu caminho no futuro, mesmo após a minha aposentadoria, e que seus relógios continuem sendo muito reconhecidos e apreciados! Pessoalmente, eu já declarei que não pretendo cuidar de nenhuma outra marca no futuro, e que a Panerai continuará para sempre como minha querida "amante".
*Ficha Técnica do Pangaea (produzido no Brasil pela Equipe Thierry Stump e parcialmente inspirado no veleiro Paratii 2 de Amyr Klink: http://www.thierrystump.com/):
Casco: Alumínio Comprimento: 105 pés (34,70 metros) Boca: 29 pés e 6 polegadas (9 metros) Calado mínimo com toda carga: 2,23 m (bolina retraída) / 5,95 m (bolina baixada) Deslocamento: de 126 toneladas vazio (163 toneladas cheio) Capacidade de água: 9.775 galões (37.000 l) Capacidade de diesel: 792 galões (3.000 l) Motores: 2 x 440 HP (Mercedes Benz) Geradores: 2 x ONAN EQD 21,5 kW Área de vela: 6,383 pés quadrados (593 m2)
Carlos E. Tiburcio Ramos é colaborador de Relógios & Relógios e Diretor da CTR Watch Cellar.