Alain dos Santos é Diretor-Geral da Montblanc no Brasil, o primeiro a ocupar o cargo após o Grupo Richemont ter assumido as operações da marca no Brasil. Relógios & Relógios teve um encontro com o executivo para uma entrevista em Curitiba.
A Montblanc recentemente inaugurou uma boutique no novo Shopping Pátio Batel, em Curitiba. A nova loja faz parte do plano de expansão do Grupo Richemont no Brasil, que assumiu as operações da marca no país, e é resultado de uma parceria com a Bergerson. Foi no novo espaço que Alain do Santos nos recebeu para uma entrevista exclusiva.
Relógios & Relógios: Alain, você fala um Português muito bom, e tem um nome Francês e sobrenome Português; na verdade, qual é a sua origem?
Alain dos Santos: Nasci na França por acaso, mas toda minha família, pais e avós, é Portuguesa. Morei em Toulouse, na França, até 1986, quando decidi-me por vir para o Brasil, aos 24 anos de idade. Fui morar no Rio de Janeiro, com um irmão mais velho.
Saí da Europa com frio e neve em Fevereiro e cheguei ao Rio em pleno Verão, na época do Carnaval, conheci a profissão do remarcador de preços... Foi um grande choque cultural... Também morei algum tempo em Salvador.
Após alguns anos voltei para a Europa e permaneci 5 anos em Genebra para desenvolver um trabalho para a Cartier, através de um agente local, no continente Africano.
Em seguida fui convidado pela Cartier para trabalhar em Portugal, onde abri a sua primeira filial no país e permaneci por 4 anos. Na sequência fui promovido para a Cartier no México em 2002, e então me mudei em 2006 para Miami, onde me tornei diretor para a América Latina e Caribe da Baume & Mercier.
Recentemente assumi a direção da Montblanc no Brasil, me tornando o primeiro diretor da marca na era Richemont.
R&R: Como está sendo a transição da Montblanc como franquia para a Montblanc como filial Richemont?
Alain dos Santos: Como uma filial, temos muito mais recursos mas também muito mais deveres. Nosso antigo parceiro realizou um excelente trabalho, com enorme sucesso, para o estabelecimento da marca no Brasil, com a abertura de muitos pontos de venda e boutiques em diversas cidades do país.
A primeira boutique Montblanc no Brasil, que também foi a primeira de todas as Américas, foi aberta em São Paulo, na Oscar Freire, em 1997, antes mesmo de Nova Iorque. Em 1998, foi aberta a primeira boutique Montblanc pelo nosso parceiro Bergerson, em Curitiba.
Com a força do grupo por trás, a Montblanc do Brasil hoje tem a possibilidade de trazer para o país produtos de forma simultânea ao resto do mundo.
Graças ao trabalho do antigo parceiro no Brasil, a transição está sendo muito tranquila, pois apenas estamos dando continuidade ao que já estava sendo feito, apenas com mais recursos.
R&R: Ao contrário das demais boutiques das marcas do Grupo Richemont, as lojas Montblanc são operadas por parceiros?
Alain dos Santos: A Montblanc possui diversas canais de distribuição, com 8 boutiques próprias, sendo 6 em São Paulo, uma no Rio e uma em Brasília, além de boutiques com parceiros, espaços nos joalheiros tradicionais e "shop-in-shops".
R&R: O que hoje representa a relojoaria para a Montblanc?
Alain dos Santos: A Montblanc é uma marca alemã líder mundial em instrumentos de escrita de luxo e para todos os seus produtos é exigido o mesmo padrão de qualidade de suas canetas.
O mesmo se aplica aos relógios, produto do qual não se espera menos do que a excelência. Daí a decisão de se investir na alta relojoaria, com a aquisição da Manufatura Villeret (Minerva).
Com as mudanças dentro do Grupo Richemont, e a vinda de um novo CEO para a Montblanc, Jerome Lambert, que vem de uma empresa relojoeira, a Jaeger-LeCoultre, o setor de relógios deve ser o mais beneficiado.
R&R: Como você o atual panorama do mercado brasileiro?
Alain dos Santos: Nos últimos anos, muitas marcas descobriram o mercado brasileiro e houve um grande crescimento no consumo de produtos de luxo, mas desde o ano passado tem ocorrido uma certa desaceleração.
Sabemos que em tempos mais difíceis a primeira coisa que as pessoas cortam é a aquisição de produtos considerados não tão necessários. Ninguém precisa de uma caneta Montblanc para viver, mas é muito bom ter uma caneta Montblanc, você vê as coisas de uma forma diferente, faz parte de um processo de saber apreciar os bons momentos da vida.
Marcas mais recentes devem sofrer, mas, em nosso caso, a Montblanc está aqui há mais de 20 anos, temos um grande conhecimento dos parceiros e do mercado, então não seremos muito afetados. Temos produtos, além dos instrumentos de escrita, que são mais acessíveis, como os acessórios de couro, mas com o mesmo nível de qualidade, e isto nos dá muita força.
Vejo essas épocas mais difíceis como uma oportunidade de consolidação das marcas mais fortes, como a Montblanc.
R&R: A Montblanc tem planos de lançar uma operação de e-commerce no Brasil?
Alain dos Santos: Nós já temos e-commerce no Japão, nos Estados Unidos e na Europa. Com certeza o Brasil está na lista de futuros países a receber o e-commerce.
R&R: Qual é a atual política de preços da Montblanc no Brasil?
Alain dos Santos: Posso garantir que o cliente Montblanc de Curitiba paga hoje em um produto o mesmo preço que na Alemanha, por exemplo. Para isto, não existe segredo: com a altíssima carga tributária do Brasil, temos que sacrificar a margem de lucro.
Isto somente é possível com a força do Grupo Richemont por trás. Com preços competitivos, temos confiança no crescimento mesmo em tempos de economia desfavorável.